sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Sim, senhor cidadão, eu sou um Guarda Municipal.

Muito bem, senhor cidadão, eu creio que o senhor já me rotulou.

Acredito que me enquadro perfeitamente na categoria na qual o senhor me colocou. Eu sou estereotipado, padronizado, marcado, corporativista e, sempre, bitolado. Infelizmente, a recíproca é verdadeira. Eu não vou, porém, rotulá-lo.
Mas, desde que nascem, seus filhos ouvem que eu sou o bicho-papão, e depois o senhor fica chocado quando eles se identificam com meu inimigo tradicional, o criminoso. O senhor me acusa de contemporizar com os criminosos, até que eu apanhe um de seus filhos em alguma falta.
O senhor é capaz de gastar uma hora para almoçar e interrompe seu serviço para tomar café diversas vezes no dia, mas me considera um vagabundo se paro para tomar uma só xícara de café. O senhor se orgulha de seu refinamento, mas nem pisca quando interrompe minhas refeições com seus problemas.
O senhor fica bravo quando alguém o fecha no trânsito, mas quando o flagro fazendo a mesma coisa, eu o estou perseguindo. O senhor, que conhece todo o código de trânsito, quase nunca porta os documentos obrigatórios.
O senhor acha que é um abuso se me vê dirigindo em alta velocidade para atender uma ocorrência, mas sobe pelas paredes se eu demoro dez segundos para atender um chamado seu.
O senhor acha que é parte do meu trabalho se alguém me fere, mas diz que é truculência e abuso de poder se devolvo uma agressão.
O senhor nem cogita em dizer a seu dentista como arrancar um dente ou a seu médico como extirpar seu apêndice, mas está sempre me ensinando como aplicar a lei.
O senhor quer que eu o livre dos que metem o nariz na sua vida, mas não quer que ninguém saiba disso.
O senhor brada que é preciso fazer alguma coisa para combater o crime, mas fica furioso se é envolvido no processo.
O senhor não vê utilidade na minha profissão, mas certamente ela se tornará valiosa se eu trocar um pneu furado do carro de sua esposa,  ou talvez salve a vida de seu filho, ou trabalhe muitas horas além de meu turno tentando resolver o seu problema.
Assim, senhor cidadão, o senhor pode se indignar, proferir impropérios e se enfurecer pela maneira pela qual executo meu trabalho, dizendo toda a sorte de palavrões possível, mas nunca se esqueça de que a sua propriedade, a sua família e até a sua vida dependem de mim e de meus colegas.
Sim, senhor cidadão, eu sou um Guarda Municipal.

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